sábado, 12 de fevereiro de 2022
sábado, 5 de fevereiro de 2022
sábado, 29 de janeiro de 2022
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
Festa de S. João na minha aldeia na década de 80/90
A Festa de São João na minha aldeia transmontana
No dia de São João, a aldeia de Mafómedes assumia-se como a rainha das “Pilhagens”.
Muito depois da hora do jantar, os masculinos de Mafómedes reuniam-se junto ao café Azenha no intuito de preparar o maior assalto às varandas e jardins dos nossos conterrâneos, delineavam-se estratégias, distribuíam-se tarefas e corrigiam-se erros cometidos em anos anteriores. A adrenalina era estonteante…
Era chegada a hora em que vasos de todas as varandas e jardins afins da nossa aldeia sofrerem um desbaste, os vasos iriam fluir num só jardim: o largo do café Azenha. Tudo era meticulosamente programado à medida que se avançava no terreno, não poderiam ser cometidas falhas que já tivessem ocorrido em anos anteriores, a noite era só uma, ela mesmo e mais nenhuma, São João em Mafómedes era único! Cada casa virava uma espécie de “objetivo alvo”! Ninguém poderia ser detetado ou apanhado, o trabalho de equipa tinha que funcionar e a nossa audácia tinha que prevalecer. Em “território inimigo” éramos destemidos e ao mesmo tempo cautelosos, dependendo do guerreiro nomeado para a tarefa, o silêncio ganhava vida e no escuro aguardávamos que o nosso combatente fosse bem-sucedido, quanto maior fosse o vaso maior seria a nossa satisfação. O Café Azenha era o aeroporto da aldeia e o tráfego era intenso, chegavam vasos desde o Bairro Novo até as Roseiras, os vasos aterravam a uma velocidade vertiginosa. Estávamos sempre desconfiados que pudessem surgir alguns dos vasos das nossas casas, o que acabaria por acontecer com o passar dos minutos, ninguém levava a mal, o queríamos era aventura! Lembro-me que em algumas casas tínhamos um cuidado redobrado, entre elas, a da Dona Almira que já nos aguardava atrás da sua porta e aí éramos surpreendidos, a vassoura surgia num ápice e as nossas cabeças viravam uns autênticos capacetes… Seguiam-se as casas seguintes, algumas delas eram um autêntico “jigsaw”, linhas que se entrelaçavam nos vasos, objetos que caiam assim que tentássemos levantar um dos seus vasos e quando caia algo era como um trovão numa tempestade, o silêncio era tanto que um pequeno som parecia um autêntico foguete no meio da noite, ficávamos paralisados com a sensação que toda aldeia tinha escutado… Pelo menos o dono da casa surgia de rompante mais uma vez vitorioso e lá tínhamos nós que dar à sola! Ficávamos sempre com um sabor amargo nesse tipo de situações, mas o que interessava era mesmo a aventura, então passávamos à casa seguinte…. No meio de tudo isto havia quem dizia que a sua casa era como uma espécie de Estados Unidos da América, “Forte e impenetrável”, eis que numa dessas noites resolvemos subir a parada, o Sr. Manuel teria de ficar sem todos os vasos ou a nossa reputação jamais seria a mesma, passamos um bom bocado a preparar o esquema e decidimos ir todos ao seu terraço, subimos o portão e carregámos todos os vasos que a sua casa continha. Fosse qual fosse o peso de cada vaso, fosse qual fosse o material que o constituia, poderiam ser barro, plástico ou mesmo cimento. Éramos como formigas trabalhadoras e unidas… Sabem que mais?! Bons e velhos tempos!
domingo, 17 de outubro de 2021
Anos 80 na aldeia
Há uns tempos atrás dou comigo no quarto a pensar em escrever uma poesia, poesia essa que nos projetasse no tempo recordações da década de 80 na aldeia de Mafómedes...
Mafómedes, a nossa aldeia
Olhamos em volta e sentimos um vazio
Assoam na memória recordações d´outrora
Eram ruas com gente, tempo sem demora
Companheirismo e diversão
Eram assim os dias e não só no verão
Domingos com olhos colados na tv
Afinal de contas Ayrton Senna
Era o ídolo que a gente já não vê
Lembro-me como se fosse hoje:
Um talho no meio do povo
Duas mercearias e um café
Não precisávamos de ir longe
Afinal de contas o transporte era a pé
Não esquecer o tasco da Santinha,
Tv ao alto com matraquilhos a meio
Bastavam apenas 5 coroas
E assim começava o desvaneio
Aos domingos era dia de concentração
Uns vinham pela sueca, outros pelo coração
Podia haver baile ou teatro
Era uma aldeia que valia por quatro
Mafómedes na minha perspectiva enquanto criança nascida e criada na nossa aldeia.