quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O dia em que morreu Ayrton Senna

 Era 1 de maio de 1994, um domingo como tantos outros, mas com um peso no ar que ninguém sabia explicar. No Café Azenha, onde costumávamos assistir às corridas, reinava o entusiasmo habitual. As cadeiras estavam todas ocupadas, os cafés fumegavam nas mesas, e os olhos estavam fixos na televisão. Ayrton Senna, o nosso herói, estava prestes a correr mais uma vez. Mal sabíamos que aquela seria a última vez que o veríamos ao volante.

Logo na sétima volta do Grande Prémio de San Marino, o silêncio abateu-se sobre a sala. Aquele silêncio ensurdecedor que acontece quando algo terrível se passa. O carro de Senna embateu com violência contra o muro na curva Tamburello. Ficámos todos petrificados, com as mãos a cobrir as bocas. Lembro-me de alguém sussurrar:
— Não pode ser... Ele vai levantar-se, não vai?

Os minutos que se seguiram pareceram horas. Na televisão, as imagens mostravam os paramédicos a correrem, o helicóptero a preparar-se para o transporte. Mas algo no rosto de quem estava lá dizia que o pior tinha acontecido. Quando a notícia foi confirmada, o Café Azenha ficou num silêncio profundo, quase religioso. Não havia palavras, apenas lágrimas nos olhos de quem compreendia que o mundo tinha acabado de perder alguém especial.

Mais tarde, vi uma reportagem na televisão com Adriane Galisteu, a namorada de Senna. Ainda em choque, ela tentava encontrar forças para falar. Com os olhos marejados, confessou:
— Quando soube, recusei acreditar. Liguei para todos que conhecia, como se uma confirmação diferente fosse mudar o que já sabia no coração.

Fez uma pausa, como se revivesse o momento, e acrescentou:
— Ayrton dizia-me muitas vezes: “A vida é curta, mas deve ser vivida com paixão.” Ele viveu assim, mas deixou-nos demasiado cedo.

Aquelas palavras ecoaram na minha mente por dias. No Café Azenha, nos dias que se seguiram, falava-se de Senna como se fosse da família. A dor era quase pessoal, mas havia também gratidão por tudo o que ele nos deu. Ayrton Senna não era apenas um piloto; era o símbolo de um sonho maior, de coragem e inspiração. E, mesmo naquele momento trágico, sentimos que ele nunca nos deixaria completamente.


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